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  • Foto do escritorIsa Pitanga

Deixe ir

Escreva um livro. Pinte um quadro. Uma parede. Mude os móveis de lugar. Mas, deixe ir. No seu tempo. Não dê ouvidos aos outros e siga a sua intuição. A prioridade é você. No fundo ninguém nos magoa. Nós é que nos magoamos com as nossas próprias expectativas.

Tem gente que consegue levar um fora e virar a página. Não é o meu caso. E não é o caso de muita gente. De repente também não é o seu caso, caro leitor.


A coisa é complicada. E uso essa palavra na falta de expressão melhor.


Nessas horas todo mundo quer ajudar. Nunca ganhamos tantos abraços e palavras cheias de esperança pingando de tanto otimismo como quando levamos um fora. Odeio isso.


Nunca foi verdade que os amores vão e vêm. Isso é apenas para consolar o nosso coraçãozinho depois que as coisas dão errado. O que acontece é muito pior. São as histórias que vão e vêm. São os projetos e os planeamentos de um futuro colorido que construirmos tendo por base um instável castelo de cartas que precisa de ambos, muito esforço e um pouquinho de golpe de sorte para dar certo e não cair. Normalmente vai tudo ao chão pouco tempo depois que a paixão acaba. E tudo bem se não deu certo.


Dizem por aí que os amores verdadeiros permanecem. Que estes não são castelos de cartas. Não sei se isso é verdade. Penso que jogam esses rumores pra gente ter no que se agarrar da próxima vez que resolvermos investir em uma relação outra vez.

Ainda me é um grande mistério superar a dor da partida e não levar um pouco dessa dor e da mágoa crescente para um novo relacionamento. Ainda me é um grande mistério tirar a maquiagem desfeita pelas lágrimas e correr livre pelas esquinas sem deixar que o meu coração comande o meu corpo e a minha alma e caia em desespero enrolada no edredom um final de semana inteiro no escuro, afundada no luto da perda.


Nessas horas odeio as mensagens de bom dia que recebemos no celular e nas redes sociais. Odeio essa alegria louca que transborda em dezenas ou centenas de mensagens todas as manhãs. Não mande esses recadinhos para quem está com o coração partido. Dói muito. E só não é pior do que os textões que inundam as redes sociais. Vamos lá, que textão que você leu que realmente mudou a sua vida ou, melhor, que textão você escreveu que fez as coisas serem diferentes?


Não há nada pior que tentar levantar quando ainda no céu o sol não apareceu e tudo o que tocamos perde aos poucos o seu brilho e encanto. A dor que a gente sente quando um relacionamento acaba é uma das piores que há. A gente sabe que pode esbarrar outra vez.


A gente sabe que mesmo que se desfaça a amizade no Facebook é bem provável que o mesmo venha sugerir o ex ou a ex uma hora dessas. E, pior ainda, a pessoa que nos substituiu pode estar no topo das sugestões de amizades. Dá pra quase sentir o gosto dessa sensação de vazio que vai tomando forma. O chão se abre e a gente não consegue saber para onde escapar.


Algumas vezes o impacto do fim de uma relação paraliza e encerra o sono em sonhos dentro de outro sonho, como naquele filme impressionante “A Origem” (Inception), onde a gente já não sabe mais onde começa o sonho e onde começa o tempo fora do sonho.


A realidade quando levamos um fora desloca-se e, até encontrarmos outra vez o rumo, é um exercício que não é uma questão só de ser forte para vencer.


Não há receita pronta. Tome um banho. Tire férias. Coma baldes de sorvete com calda de chocolate. Reúna tudo o que sobrou de lembranças e faça uma fogueira alta de São João. Aceite aquele convite para pular de paraquedas ou fazer aquela viagem com os amigos.


Vá para a livraria e renove toda a sua biblioteca. Tome um banho de loja e doe tudo o que lembrar quem você quer deixar ir da sua vida. Mas não desista. Eu nunca desisto de ser feliz. De levantar. De postar uma selfie num lugar incrível. Com pessoas incríveis que desejem estar pelo prazer de compartilhar a sua companhia.


E tudo bem se não tiver alguém. A gente precisa se bastar sozinho. Escreva um livro. Pinte um quadro. Uma parede. Mude os moveis de lugar. Mas, deixe ir. No seu tempo. Não dê ouvidos aos outros e siga a sua intuição. É a nossa carta mágica. A prioridade é você.


No fundo ninguém nos magoa. Nós é que nos magoamos com as nossas próprias expectativas.
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