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  • Foto do escritorIsa Pitanga

O AMOR MUDA DE IDEIA?

Um olhar. Uma conversa. Um beijo ou dois. Uma noite ao luar. Alguma festa, alguma dança. Alguns copos. Alguns cafés e mais alguns telefonemas ou mensagens ou curtidas ou audios ou nudes e pronto. Quando se vê estamos morando juntos.

Entramos pela porta dizendo eu te amo. E, de tanto entrar e sair pela porta acho que vamos aprendendo o caminho e não mais percebemos para onde estamos indo. E então parece que o amor muda de ideia. E de repente, saímos pela porta e não voltamos mais.


O #amor é assim tão passageiro? Vai assim sumindo de repente sem nenhum arrependimento?

Os silêncios matam o amor. Antes, um momento que fosse ficar sem falar nele ou sem estar com ele deixava na gente uma dor e uma saudade tão grandes quanto o oceano. Agora há um oceano entre nós. Passar o dia todo sem se falar já não dói e parece que está tudo bem assim.


Não! Não está bem. O amor está indo embora. O amor, já foi na verdade. O amor é egoísta. Eu dividia, se pudesse ainda agora, a minha solidão com o amor. Mas quando o amor já não quer dividir nem o seu egoísmo, é porque ele já não está. O que fica é a ausência.


Será que os casais se separam porque o amor contou pra eles que podem ser felizes sem ninguém? Quem acreditaria numa mentira dessas? Ou pior, será que acreditam que podem ser mais felizes a procurar o amor que vive em sonhos e não aquele que está à sua beira?


O que eu digo agora também já está a morrer? A ser esquecido e se desfazendo entre os dias e as noites que se sucedem?


O amor morre e nem sempre se escuta a sua morte. Não dá para ouvir daí o seu suspiro último?

Então, as flores murcham e aquele momento do brilho nos olhos, dos olhares que se encontram parecem ter sido apenas um sonho. Não podemos guardar só para a gente mesmo o amor. Ele deve ser compartilhado. Alimentado todos os dias. Mas sem sufocar, tem de se dar espaço, mas não demais. Deve-se amar e nesse amor, libertar o outro para que tenha espaço e tempo para também amar e nessa troca, seguir os dias de mãos dadas com a gente.


Ninguém deve amar por obrigação. Ninguém deve amar mais o outro que a si próprio. Mas também não deve amar mais a si do que todas as coisas e todos os outros. Há um equilíbrio. Se voltarmos o nosso olhar somente pra dentro de nós mesmos, só terá espaço para nós mesmos e ficamos solitários nesse amor único por nós mesmos.


O amor deveria ser como aqueles poemas de cordel, a enfeitar os caminhos. Para a gente ler devagarinho ou com pressa.


Do final pro começo, aos poucos, aos pedaços ou tudo de uma vez só. Assim, não fica preso a começos nem a finais. Sempre a contar histórias e mais histórias.


Quando amamos nos tornamos fortes. O amor regenera o corpo e a alma. Nos traz de volta à vida. Os dias tem mais luz, as cores do céu são mais vibrantes.


Mas amar significa entrega. É como abrir os braços no alto de um despenhadeiro e, num vôo livre aceitar o paraíso na terra. Mas, quando abrimos os nossos braços e nos jogamos de encontro ao amor, sem reservas, sabemos, que também estaremos indefesos.

Tal como quando nascemos, no amor, nossa sorte depende exclusivamente do outro que nos acolhe no aconchego do seu abraço e no carinho do seu afeto. Mas não vejo mais essa disposição no amor.


O amor anda escorregadio. Desconfiado e distante. Já não quer mais amar assim. Tem medo de se entregar de verdade. Está sempre a olhar para os lados e já não beija de olhos fechados. Está sempre a espreitar se há melhores jardins e parques onde possa estar sem se apegar.


Como pode viver assim? Muda do dia pra noite e anda com a memória curta para as coisas felizes e dramatiza e pinta nas paredes as pedras do caminho para justificar a sua desistência. Já não é mais amor. Já é outra coisa e então, muda outra vez e mais outra. Como pode se olhar no espelho?


O amor que não se vê é a causa das juras que quebramos todas. O amor pode ser só maluquice, mas é a maluquice que eu mais gosto de viver. Fazer barulho porque viver é fazer barulho, e a morte desse amor, agora, é tudo de um todo em silêncio.


Partimos os pratos, jogamos os copos ao chão, acordamos os vizinhos e viramos a casa de cabeça para baixo. Já não me amas mais e eu grito que vá embora, porque não te reconheço e pra ti sou mais que estranha. Não era amor? E se era amor, para onde que foi? Onde estava o furo por onde ele escorreu devagarinho e em silêncio?


A tua mão não pega mais na minha mão. Já não pousa mais na minha. Jã não és o meu abrigo e eu não sou mais o riso que mais gosta. Desfizemos promessas, e já não cresce mais nada aqui dentro. Não me deixes. Mas do grito abafado não se ouve nada. Bate a porta ao sair e deixa a chave.


Tem cá um vazio no meu peito, varrido por um furacão que bagunçou tudo e levou pra longe o amor que me tinhas. Prendo-me à memórias que já não me parecem mais do que invenções da minha imaginação, sonho sonhado a dois que fugiu de nós ao acordarmos.


Para onde vamos? Eras tu e eu. Agora tem um eu cá e outro eu aí contigo que já não conhece esse meu eu que tenho cá no meu peito. É o amor, que foi. Deixou cadeira vazia, poeira nos cantos. As janelas estão a bater. Me levanto da cadeira e fecho as janelas, uma a uma, como se encerrasse cada capítulo, cada viagem, cada plano, cada brinde e cada manhã entre os lençóis.


As luzes da casa estão apagadas. Uma a uma vou ligando para me preparar para a noite que já vai alta no céu. Se eu pudesse pulava as próximas horas, mas não dá. Mente-me com os olhos dizendo que amanhã vai ser outro dia. Me acostumei com esses olhos mentirosos. E, encarar a verdade é mais complicado que conviver com a mentira dos teus olhos. Prefiro acreditar nos teus olhos do que encarar esse vazio do teu vou-me embora e não volto mais.


Não quero te acusar de nada, porque quando vai-se o amor, ficamos nós solitários e nada podemos fazer. O tempo é curto demais para insistir onde não há mais nada.


Eu não retiro nada do que eu disse um dia de #coração #aberto. Mas isso, sou eu. Não posso exigir isso de ninguém mais.

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